Balzaquianas

George Sand (1804 – 1876)

Balzac, que buscou tanto o absoluto numa certa ordem de descobertas, quase encontrou, em seu próprio trabalho, a solução de um problema desconhecido antes dele, a realidade completa dentro da completa ficção.”

“Um dos meus amigos que conhecia Balzac me apresentou a ele […]. Embora Balzac ainda não tivesse produzido suas obras-primas naquele tempo, fiquei muito impressionada com sua maneira nova e original, e já o considerei um mestre para estudar. Balzac não foi encantador para mim à maneira de Latouche, mas também excelente, com mais redondeza e igualdade de caráter. Todo mundo sabe como seu contentamento de si mesmo, satisfação tão bem constituída que nós perdoamos, transbordava nele; como ele amava falar sobre suas obras, contá-las verbalmente, lê-las em rascunhos ou em provas. Ingênuo e bem-humorado, ele pedia conselhos, não escutava a resposta ou a usava para combater com a obstinação de sua superioridade. Ele nunca ensinava, ele falava sobre ele, somente sobre ele. Uma única vez, ele esqueceu de si para nos falar sobre Rabelais, que eu ainda não conhecia. Ele foi tão maravilhoso, tão deslumbrante, tão lúcido, que nós nos dissemos quando o deixamos: “Sim, sim, decididamente, ele terá todo o futuro que sonha; ele compreende muito bem o que não é ele, para não fazer de si mesmo uma grande individualidade. “

“Sóbrio em todos os outros aspectos, ele tinha os costumes mais puros, tendo sempre temido a desordem como a morte do talento, e quase sempre amava com ternura as mulheres somente pelo coração ou pela cabeça; mesmo em sua juventude, sua vida era, como de costume, a de um anacoreta e, embora ele tenha escrito muitas coisas desordenadas e inconvenientes, mesmo que ele tenha se passado por especialista em questões de galanteria, ter feito A Fisiologia do casamento e os Contes drolatiques, ele era muito menos rabelesiano do que beneditino.”

“Mas quando Balzac, encontrou finalmente a palavra de seu destino, a palavra de seu gênio, ele pegou este título admirável e profundo: A Comédia humana. Quando, através dos esforços de trabalho e engenhosidade ele fez de todas as partes de sua obra um todo lógico e profundo, cada uma dessas partes, mesmo as menos apreciadas por nós no início, recuperaram seu valor ao retomar seu lugar.  Cada um de seus livros é, de fato, a página de um grande livro, que estaria incompleto se ele tivesse omitido essa página importante. É preciso então ler Balzac todo {…} Nada é indiferente em sua obra geral.”