Balzaquianas

A Família de Balzac

Nascida em uma família de classe média, Charlotte (50s), a vaidosa e bela mãe de Balzac, criou uma persona social charmosa para uso externo. Sempre interessada na vida de celebridades, ela mimetiza o comportamento do que considera fino e elegante. Com a família ela dispensa a cerimônia e se mostra como é: pragmática, narcisista, apegada a dinheiro e autoritária. É ela que comanda a casa com mão de ferro pois o marido, o velho Bernard-François (70s), paira alheio à dinâmica familiar. Como um cientista maluco, esse bon vivant desde a aposentadoria se ocupa com estudos, teorias, atividades físicas, dietas e qualquer novidade que possa lhe garantir uma longevidade saudável e fogosa.  

O maior prazer de Charlotte é ser admirada pelos homens e invejada pelas amigas por sua aparência – ela tem pavor de envelhecer. Como não tem perseverança e é preguiçosa para fazer exercícios, ela se cuida com plásticas e tratamentos estéticos.   

A mãe de Charlotte, vovó Sallambier (70s), que voltou a morar com a família, é hipocondríaca e vive entre médicos e remédios. Afável, ela tem uma predileção pelo neto Balzac mas vive em guerra com o genro Bernard que perdeu a herança que recebeu do marido em investimentos mal feitos.

A relação de Charlotte com seu primogênito Balzac nunca foi fácil pois ela é uma crítica implacável que mina a autoestima dele. Para ela, o garoto sempre foi meloso demais, um sonhador, preguiçoso, irresponsável e gastador, um molenga gorducho e desajeitado cuja presença a incomoda inclusive por lembrar sua própria idade. Charlotte acredita que só ela sabe o que é melhor para seus filhos e sua educação preconiza a obediência absoluta exceto para o caçula Henri (15s), seu preferido, que é a cara do vizinho Jean de Margonne.

Ilustração de Titwane – Musée Balzac, Château de Saché

A irmã Laure, cujo apelido é Lelio (20s), é apenas um ano mais nova que Balzac. Ela é a confidente e cúmplice querida do irmão que admira, encoraja e apoia  incondicionalmente. Lelio é uma ilustradora que trabalha para uma agência de marketing e produção de conteúdo. Como hobby, ela criou um personagem com super poderes chamado X-Balzak – e planeja desenvolver uma série de desenho animado para crianças.

A outra irmã, a rechonchuda professora de maternal Laurence (18s), é alvo de bullying constante da mãe que a apelidou de Bolota. Charlotte é manipuladora e sabe o que dizer quando quer alfinetar os filhos.

 


 

NA VIDA REAL

A relação de Balzac com sua mãe foi conflituosa e marcada por ressentimentos até a morte do escritor. Sua frieza partiu o coração sensível de Balzac. Charlotte nunca conseguiu dominá-lo e o atormentou com críticas e cobranças. Entretanto, por diversas vezes, ela acabou ajudando-o inclusive financeiramente.  

“Forçado a observá-la para reconhecer se havia em seu coração recantos friáveis em que eu pudesse fixar alguns ramos de afeto, percebi em minha mãe uma mulher alta, seca e magra, jogadora, egoísta, impertinente (…).  Na vida só enxergava deveres a cumprir; todas as mulheres frias que encontrei faziam, igualmente, do dever uma religião.”

Laure (Lelio) foi crítica e admiradora do trabalho de seu irmão, sendo sua confidente íntima. Ela escreveu textos que serviram de base para alguns dos romances de Balzac, e também livros de autoria própria sob o pseudônimo Lelio. Na galeria de retratos femininos da Comédia Humana, Laure representa a justiça e a sabedoria.

Os outros personagens da família: Bernard-François, Laurence, Vovó Sallambier e Henry-François foram criados conforme as características descritas nas biografias de Balzac.