Balzaquianas

Friedrich Engels (1820 – 1895)

“A Comédia humana’ nos dá uma história maravilhosamente realista da sociedade francesa, especialmente do ‘le monde’ parisiense, descrevendo, cronicamente, quase todos os anos, de 1816 a 1848, das incursões progressivas da ascensão da  burguesia sobre a sociedade dos nobres, que se reconstituiu depois de 1815 e que configurou de novo, na medida do possível, o padrão da ‘la viellie politesse française’ (a velha polidez francesa). Ele descreve como os últimos remanescentes desta, para ele, sociedade modelo, gradualmente sucumbiram antes da invasão do arrivista vulgar, ou foram corrompidos por ele; como a grande dama cujas infidelidades conjugais não passavam de um modo de afirmar-se em perfeita consonância com a maneira como ela fora disposta em casamento, deu lugar à burguesia, que punha em cheque o marido por dinheiro ou cashmere; e em torno desse quadro central ele agrupa uma história completa da Sociedade Francesa da qual, mesmo em detalhes econômicos (por exemplo, o rearranjo da propriedade real e pessoal após a Revolução), aprendi mais do que com todos os historiadores, economistas e estatísticos profissionais do período juntos. Bem, Balzac era politicamente um legitimista; sua grande obra é uma elegia constante sobre a inevitável decadência da boa sociedade, suas simpatias estão todas com a classe condenada à extinção. Mas, apesar de tudo, sua sátira nunca é mais aguda, sua ironia nunca mais amarga, do que quando ele põe em movimento os mesmos homens e mulheres com quem ele simpatiza mais profundamente – os nobres. E os únicos homens de quem ele sempre fala com admiração indisfarçada, são seus mais amargos antagonistas políticos, os heróis republicanos do Cloître Saint-Méry, os homens, que na época (1830-6) eram de fato os representantes das massas populares. Aquele Balzac assim foi obrigado a ir contra suas próprias simpatias de classe e preconceitos políticos, que ele viu a necessidade da queda de seus nobres favoritos, e os descreveu como pessoas que não merecem nenhum destino melhor; e que ele viu os homens reais do futuro onde, por enquanto, só eles seriam encontrados – que eu considero um dos maiores triunfos do Realismo, e uma das maiores características do velho Balzac.”